“Como
você está se sentindo?” É pergunta de resposta condicional.
Depende de quem perguntou, onde se está, o momento em si; tudo isso
dita o ritmo, o detalhamento e a emoção que a resposta vai
carregar. Regem as normas de boas maneiras que, salvo algumas
exceções, nossa resposta deve ser “Está tudo bem”, afinal o
desabafo deve ser guardado apenas para os mais próximos e, mesmo
assim, apenas em determinados momentos.
Como
se responde, então, quando a pergunta é feita por uma rede social?
Só aí a gente já consegue abrir parênteses. Esqueçamos o
morimbundo orkut,
cuja sobrevida me surpreende. Para mim, este já havia recebido a
extrema-unção há algum tempo. Refiro-me especificamente ao
Facebook,
a grande vitrine atual da vida de todos. Muito interessante, bem
desenvolvida e engendrada. Conecta diversos aplicativos e serviços,
possibilita comércio e outros ganhos pessoais. Afora usos
profissionais e comerciais, está cada vez mais se tornando o endosso
da grande lei social decretada pelo brilhante Andy Warhol: “No
futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos”. Pois,
maravilha pura, o Facebook te possibilita de forma dinâmica, em um
feed
de notícias (uau, vira-se notícia, manchete!), transformar em
fábula sua vida. Prolongar os ditos quinze minutos. E a função é
retroalimentada, porque a sua notícia motiva a minha notícia. O
raciocínio é simples: celebridade tem que aparecer, senão cai no
ostracismo. E tem que aparecer feliz, “sarada”, bem vestida e com
uma taça de espumante (jamais nacional) na mão. Feliz, no conceito
“Caras” da coisa. Ocorre que, desculpe informar, felicidade
enquanto estado infinito e eterno é uma utopia, das mais nocivas. A
vida é feita de azedas e amargas batalhas, resolução de problemas
cotidianos ou graves e, nos breves intervalos, momentos felizes. É a
busca desses momentos que nos motiva a vencer as pequenas e diárias
agruras. Nem mesmo as celebridades, dentro da acepção tradicional
do termo, gozam de felicidade eterna. Volta e meia vê-se isso nos
questionáveis portais de fofocas, de alguém que perdeu a linha, a
pose e, às vezes, até a vida, em função de alguma decepção.
Todo
mundo que ali está incorre nesses pecadilhos sociais, nesses
excessos cibernéticos. Ninguém tem teto de vidro neste sentido.
Mas, além de endêmica, a questão tem se mostrado interminável.
São dezenas de instrumentos, como foto-montagens, citações de
autores famosos (outro detalhe: em boa parte das vezes, tanto a
autoria está erroneamente creditada, quanto a frase em si sequer
existiu e, muito menos, foi proferida pelo referido autor), ou o bom
e velho desabafo. Por quê? Porque o “Como você está se
sentindo?” lido na caixa de texto é uma extensão do excesso de
informação que se tem no feed
em
si. É um misto de autoafirmação com lamento com descrição de
intempéries e convulsões cotidano-sociais com resultado de jogos de
futebol com “modelices” com divulgação de empreendimentos e
trabalhos com piadas e troças com propaganda e revolta política com
manifestações religiosas com... CHEGA! Pare, respire. Todos esses
itens e assuntos que citei são integrantes da vida de todos nós,
sem dúvida, e devem ser divididos. Pode até ser por meios
eletrônicos, hoje em dia a vida é corrida e é só o que nos resta
para comunicarmo-nos com nossos entes queridos. Agora, valer-se
sempre do arremessar de conteúdo num feed
de
notícias vira um vício, o que obviamente gera crise de abstinência.
Como citei acima, a coisa é retroalimentada e, uma hora
invariavelmente, pode vir a transbordar. Transborda porque perfeição
não existe, porque felicidade ocupa menos espaço e pesa menos que a
tristeza. Mas como, e reafirmo, felicidade é feita de pequenos
momentos que preenchem os rejuntes das lajotas gélidas e cotidianas
de nossa existência, o resto é o que pesa mais. E vai pesar sempre,
não se iluda do contrário. Mas faz parte da existência aguentar os
pequenos problemas no osso. São as adversidades que nos fazem
evoluir. As vitórias, conquistas e felicidades apenas confeitam a
vida; a massa do bolo é feita das lutas, e o fermento nada mais é o
quão bem reagimos aos insucessos.
Redes
sociais são interessantes, nos fazem retomar ou manter contato com
pessoas queridas que já passaram, às vezes há muito tempo, por
nossa vida. Já se versou que estamos esquecendo de olhar para o lado
e para o entorno, apenas para falar com as centenas de “amigos”
(reveja mentalmente este conceito, também, para o seu bem) do
Facebook,
e devemos nos policiar nesse sentido. A vida real é que nos faz...
reais. “Como você está se sentindo?” Acho uma pergunta gostosa,
um abraço feito de letras, quando feito por alguém querido e num
momento de intimidade. Feliz, maravilhado, chocado, supreso,
angustiado... Estados de espírito inerentes à condição humana,
que dividimos para nos aliviar. Mas não existe vulcão na face
terrestre que fique em erupção eternamente, uma hora a coisa
ventila, areja. Sem exageros, menos é mais. Menos virtualidade é
mais realidade. Foi o (ovo de Colombo) que realizei num churrasco com
dois amigos que não via há tempos. Momento real, tangível, que
nenhuma virtualidade consegue substituir. Se volto ao Facebook?
Deixo a resposta a cargo do futuro, até porque, para mim,
transbordou.
(Diego
Vargas)
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