domingo, 7 de abril de 2013

Redondilha de dois

"Só tu enxergas perigo
Refresca-te nessa chuva
Sai logo desse abrigo
Arrisca em nós teu tudo
e enlouquece comigo

(Diego Vargas)"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pobre Conceito

 
A televisão segue com sua programação veiculada pelas vinte e quatro horas do dia, e no que tange a TV aberta, está deveras difícil fugir da mesmice. Mas, de tempos em tempos, ocorrem verdadeiros divisores de águas. No último dia 03 de fevereiro, foi ao ar uma entrevista de Marília Gabriela com o Pastor Silas Malafaia. Em bom português, um embate da sabedoria com a ignorância, para dizer o mínimo. Esse senhor usou as principais armas daqueles que não têm como explicar o que pregam: argumentos furados, inválidos e distorcidos, todos esbravejados em alto tom de voz. Mamãe sempre disse: “quem grita, perde a razão”. Foi um festival de agressões à comunidade LGBT, diminuindo todos nós atrás de palavras falsas de amor ao próximo; neste aspecto, inclusive, o senhor Malafaia teve a pachorra de dizer que ama os homossexuais como ama os bandidos. Conforme circulou na internet, isso seria amor próprio (em qual das duas partes ele se encaixa, eu deixo a escolha ao leitor, afinal a homofobia, muitas vezes, é negação de si mesmo).

Me indignou a entrevista, como a milhões de outros brasileiros. Me indignou porque sou gay, porque faço parte de uma minoria há séculos perseguida, que está conseguindo razoáveis avanços sociais à custa de lutas hercúleas; lutas essas travadas contra a justiça ainda em algumas instâncias retrógrada, contra a hipócrita sociedade brasileira, contra argumentos recheados de ódio das partes mais fundamentalistas do universo cristão. Mas me indignou principalmente porque foi uma demonstração do mais irracional preconceito. O preconceito é um câncer que carcome as sociedades, seja ele de qual espécie for. Não faltam provas históricas para tal.

Holocausto Nazista. Perpetrado pelo bárbaro regime de Adolf Hitler, consistiu em perseguição e extermínio sistemáticos de determinados grupos, onde sobressaem-se os judeus, mas também incluídos os homossexuais (há séculos perseguidos, como disse acima), ciganos, intelectuais do Leste Europeu, pessoas com deficiência mental e física, entre tantos outros. Baseado em alguns conceitos odiosos, dentre os quais se destaca o da eugenia (na sua variante nazista, a purificação da dita raça ariana), Hitler liderou uma cruzada que culminou em carnificina.

Inquisição. Comandada pela Igreja Católica, consistia de várias instituições que deveriam combater ideias contrárias aos dogmas de tal religião. Qualquer tipo de objeção, e não só as religiosas. Tinha motivações políticas e econômicas, também. Mas, nas trevas medievais, era fácil enquadrar alguém como herege. Era, basicamente, apenas uma questão de acusar e, muitas vezes, inventar argumentos. A grosso modo, instalava-se um tribunal, e o acusado muitas vezes era condenado à morte, normalmente de forma cruel.

Apartheid. Regime de segregação racial, com suas primeiras demonstrações datadas do período colonial, mas que vigorou oficialmente em meados do século XX na África do Sul. Com argumentos de proteção da minoria branca, após as eleições gerais de 1948, o eleito Partido Reunido Nacional implantou várias leis que trataram de literalmente dividir e lotear, em espaços específicos, o território sul-africano para brancos, negros, de cor (mestiços) e indianos. Mais que isso, foi uma forma de proteger, com políticas abomináveis, os interesses da minoria branca. Quem estivesse fora desta minoria tinha serviços públicos (educação, saúde, transporte et cetera) de pior qualidade, espaços separados para a circulação, desamparo jurídico, restrições profissionais (empregos que poderiam obter), além de tantos outros absurdos.

Dei apenas, repito, apenas três exemplos. Mas a história da humanidade está recheada dos mais deploráveis exemplos de preconceito, e de toda a dor que ele causa. De todo o sofrimento, a exclusão, a escuridão que ele impõe a quem o sofre. O preconceito nasce no medo do que nos é estranho. E aí entra o fator educação, esclarecimento. Mas não é somente a educação formal, científica. É a educação da alma, do aceitar o próximo como um igual. O preconceito nasce na patética necessidade que o ser humano tem de rotular aquele que, na sua visão, não faz parte do seu grupo. Porque um rótulo não é uma identificação de um grupo. Um rótulo é um julgamento. Existem grupos de interesse comum na humanidade, claro. Isto é uma parte saudável da natureza humana. Pessoas que gostam de um determinado tipo de música se identificam. Pessoas que torcem por um determinado time esportivo se identificam. Pessoas que possuem um determinado credo religioso se identificam. Interesses em comum. Mas o seu interesse é apenas diferente do interesse do outro, dentro da mesma espécie de interesse. Não é melhor nem pior. É diferente, e só. Você tem que respeitar isso.

Convivemos todos os dias com o preconceito. Inclusive, mesmo as mentes mais abertas e livres incorrem em algum preconceito, aqui e acolá. Mas há de se fazer um esforço para eliminarmos toda e qualquer forma de ódio do nosso dia-a-dia. É um exercício de contágio, eu diria. De mostramos que não é certo odiar o seu semelhante humano por fatores tão pequenos, tão bestas. Pare de apontar dedos, e olhe-se no espelho. Você tem uma determinada cor de pele, mas aquele que tem uma cor de pele diferente da sua é da mesma espécie (esqueça essa baboseira de raças). Você crê em uma determinada religião, mas aquele que segue outra religião tem o mesmo direito que você de segui-la livremente. Você gosta de fazer sexo com o gênero oposto, mas aquele que gosta de fazer sexo com o mesmo gênero tem o mesmo direito que você de expressar sua afetividade. A humanidade só evolui quando agrega. Quando segrega, se destrói. De boas intenções, o inferno está cheio. O que determina, no final, o repúdio ao preconceito são os bons atos. E os bons ensinamentos. Porque preconceito é coisa que se ensina, se multiplica. Se você parar de dizer que funkeiro é bandido, aos poucos esta postura se dissemina ao seu redor. Assim funcionará com tantos outros burros estereótipos: o gay promíscuo, o roqueiro toxicômano, a modelo anoréxica, o seguidor de religiões afro praticante de magia negra, a loira burra, o baiano preguiçoso... Rótulos, julgamentos estúpidos. E julgamento não se faz senão na esfera judiciária, obviamente. Embasada em preceitos legais, que prezam a igualdade. Porque somos iguais. Independente de cor de pele, religião, sexo, orientação sexual, nacionalidade e naturalidade, idade, classe social. Enquanto espécie, que paremos de apontar dedos, e olhemos mais para o espelho. No momento que nos preocupamos mais com como somos para o universo que nos cerca, melhoramos para o universo que temos dentro de nós. Algo lhe parece diferente? Não ouça a palavra de ódio que algum acéfalo da cercania provavelmente vomitará. Pare, observe, conheça. O estranho só é estranho quando está lá; quando chega aqui ou quando vamos até ele, vira mais um de nós. E a união, além de adoçar a vida fazendo açúcar, faz a força.

(Diego Vargas)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Santa Maria, rogaremos por vós.


Eu não tenho aqui a pretensão de falar o que você quer ler. Eu tenho simplesmente a pretensão de expressar a dor sob a minha leitura da vida. Eu não tinha o desejo ferrenho de ser mãe. Mas eu sou. E fui mãe velha. Tenho um menino de quase quatro anos e uma menina de quase dois meses. Tenho 41, portanto tenho idade suficiente pra ser mãe da grande maioria das pessoas que foi assassinada no dia 27 de janeiro de 2013. Sim, assassinadas. Crime premeditado. E como sabiamente a amiga de uma amiga disse: NÓS SOMOS TODOS CULPADOS, assim como os donos da boate, os músicos, as autoridades. E que fique claro aqui que cada pai e cada mãe vão carregar consigo a culpa por não ter impedido seu filho de sair naquela noite. E aquele que conseguiu não vai se vangloriar, mas respirar aliviado. Porque dormir sossegado nunca mais. Aliás, pai e mãe não dormem. Se você conhece alguma mãe que dorme com os dois olhos fechados, é uma pessoa em um milhão. E é nisso que venho pensando desde então. Cada vez que afofo um dos meus filhos, limpo a bunda, acalento, dou uma bronca, cheiro o pescoço, faço mamadeira, espremo o hipoglós, penso nesses mais de duzentos pais. Quantas vezes eles fizeram o mesmo, quanto aconchego, quanta cama mijada, quanta lista de material, quanto desenho indecifrável, quanta nota alta na escola, quantas vezes implicaram com os namorados (as). Se um filho soubesse quantas vezes a gente verifica a respiração deles quando são bebês, viraria mais os chinelos. Visita a avó, dá beijo naquela tia, limpa essa boca, não fala palavrão, leva no show, compra o tênis, diz o não, come essa comida, quem é esse guri, porque tu não vai com tua prima, larga esse videogame, passou na federal, tu usa camisinha, puxou teu pai, leva casaquinho, não gosto dessa tua amiga, tenta pegar o buquê, que calça feia, nossa como tu tá lindo... E por aí vai! Que dor do cacete e sem fim. A vida continua, mas essa gente não se recupera. Eu vi minha avó morrer em vida quando enterrou meu tio! Não é a ordem. Os velhos morrem antes, mas os bons morrem jovens. Explica isso pra mãe do menino que entrou quinze vezes naquela câmara de gás pra salvar gente e depois se foi. Como simpatizo com o Espiritismo tendo a acreditar que eles tinham um pacto, que desencarnariam todos juntos. Fico imaginando o alívio que sentiram ao sair do sufocamento e, subirem juntos a ladeira da Rua dos Andradas, ao encontro da luz. E que agora estão sendo tratados, em um lugar de temperatura amena e com vestes leves. Que estão sorrindo, mesmo sem diploma. Mas eu não sou a mãe deles. Fácil falar. Mesmo assim chorei. Chorei ao saber das histórias, ao ver os rostos. Segura um desses em casa no sábado à noite, com os hormônios saindo pelo branco dos olhos. Com as promessas de festas e muito beijo na boca. Segura, quero ver! Quisera que aquela manhã de domingo jamais tivesse acontecido. A gente tem a tendência a acreditar que tudo acontece longe. Tiroteio em escola, 11 de setembro, maluco na Noruega. Aqui foi fruto da imprudência, filho da propina, sobrinho do jeitinho brasileiro, primo da negligência. E nada do que falarmos ou fizermos vai trazer um destes 236 jovens de volta. Beije seu filho, seu sobrinho, o filho do seu amigo. Ele pode não ter direito ao amanhã. E por favor, doe sangue mesmo que não testemunhemos mais nenhuma tragédia. Amanhã posso ser eu, pode ser você. Que este soco no estômago sirva de lição para que aprendamos a prevenir. E da próxima vez que viajar de avião, preste atenção às instruções de segurança.
Santa Maria da Boca do Monte – rogaremos por vós.
02 de fevereiro de 2013.

Melissa Vargas

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Leve bem leve

Olha o macro
Belisca um naco
que não seja micro
E molha o bico

Mantém o foco
Não dá troco
nem passa recibo
Acha tua tribo

Cria teu rumo
Cuida do aprumo
e abstrai do problema
Esse é o esquema

(Diego Vargas)

domingo, 20 de janeiro de 2013

A Mentira

Atire a primeira pedra quem nunca mentiu, uma mentirinha pequena para se livrar de alguma saia justa ou até uma grande mentira para evitar algo que seria extremamente desagradável, ate aí, mesmo não sendo a coisa mais ética do mundo vamos lá, faz parte da natureza humana, será? Apesar daquele ditado popular que fala que a mentira tem perna curta todos nós já buscamos refúgio nesse artifício, uns em nome do bem comum, outros pensando no seu próprio umbigo, existe o mentiroso compulsivo que não vive sem os floreios da mentira e o patológico onde mentir vira uma doença da qual mesmo ele, querendo, não consegue se livrar, o que para uns é exceção se torna regra, a mentira passa a ser um instinto como comer, beber e dormir, o mentiroso acaba sendo sua própria vítima  e em algum momento da vida irá cair no descrédito geral e como diz um outro ditado pode-se enganar a todos por um tempo, mas não se pode enganar a todos o tempo todo. Se olharmos para o lado veremos que a mentira está presente no nosso cotidiano como nas propagandas, nos discursos escandalosos dos políticos e até na religião onde vemos pastores descaradamente vendendo lugar no céu em troca de dinheiro, sendo pecado ou não a mentira está aí seja para criar ilusões, melhorar a vida de quem a proclama ou prejudicar a de quem é enganado, vou terminar aqui com uma frase de um jornalista e escritor  de quem gosto muito, Chico Sá: “Mentir é editar a vida”, faz sentido, mas melhor é que isso não caia no comum pois o improviso ainda assim é muito mais excitante.

(Fabiana Leivas)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Idílio

"Não dá para simplificar
Apenas na trindade
O lugar, a hora
e a entidade

Ainda que cada parte
veja-se correta
Pode ter algo em volta
Que desgraça acarreta

Corpos entrelaçados
envoltos no momento
Ingênuos e enfeitiçados

Parece que converge
Quando menos espera
Perece e submerge"

(Diego Vargas)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Simples assim

Aquilo tudo parecia tão intenso e ao mesmo tempo tão frágil, tão real e ao mesmo tempo fora do contexto natural das coisas cotidianas, da vida que ela levava e essa foi uma das coisas que a prendeu a ele, prender não seria a palavra certa, não se sentia presa e nem vazia, todas as vezes que voltava era porque queria, queria o momento, o prazer, o cheiro e as cores daquelas noites e dias, nada era concreto além das paredes e daqueles dois corpos nus dançando o ritmo do universo, poucas eram as palavras, muitos os sons, era a vida pulsando sem nenhuma explicação, instintiva, visceral, quase animal, uma necessidade sem desespero, era o que era, simples mas completo, poderia durar para sempre ou nunca mais acontecer, bastava um descompasso, um outro passo ou um novo amanhecer.

(Justine Pectore)

FELIZBOOK

Como você está se sentindo?” É pergunta de resposta condicional. Depende de quem perguntou, onde se está, o momento em si; tudo isso dita o ritmo, o detalhamento e a emoção que a resposta vai carregar. Regem as normas de boas maneiras que, salvo algumas exceções, nossa resposta deve ser “Está tudo bem”, afinal o desabafo deve ser guardado apenas para os mais próximos e, mesmo assim, apenas em determinados momentos.

Como se responde, então, quando a pergunta é feita por uma rede social? Só aí a gente já consegue abrir parênteses. Esqueçamos o morimbundo orkut, cuja sobrevida me surpreende. Para mim, este já havia recebido a extrema-unção há algum tempo. Refiro-me especificamente ao Facebook, a grande vitrine atual da vida de todos. Muito interessante, bem desenvolvida e engendrada. Conecta diversos aplicativos e serviços, possibilita comércio e outros ganhos pessoais. Afora usos profissionais e comerciais, está cada vez mais se tornando o endosso da grande lei social decretada pelo brilhante Andy Warhol: “No futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos”. Pois, maravilha pura, o Facebook te possibilita de forma dinâmica, em um feed de notícias (uau, vira-se notícia, manchete!), transformar em fábula sua vida. Prolongar os ditos quinze minutos. E a função é retroalimentada, porque a sua notícia motiva a minha notícia. O raciocínio é simples: celebridade tem que aparecer, senão cai no ostracismo. E tem que aparecer feliz, “sarada”, bem vestida e com uma taça de espumante (jamais nacional) na mão. Feliz, no conceito “Caras” da coisa. Ocorre que, desculpe informar, felicidade enquanto estado infinito e eterno é uma utopia, das mais nocivas. A vida é feita de azedas e amargas batalhas, resolução de problemas cotidianos ou graves e, nos breves intervalos, momentos felizes. É a busca desses momentos que nos motiva a vencer as pequenas e diárias agruras. Nem mesmo as celebridades, dentro da acepção tradicional do termo, gozam de felicidade eterna. Volta e meia vê-se isso nos questionáveis portais de fofocas, de alguém que perdeu a linha, a pose e, às vezes, até a vida, em função de alguma decepção.

Todo mundo que ali está incorre nesses pecadilhos sociais, nesses excessos cibernéticos. Ninguém tem teto de vidro neste sentido. Mas, além de endêmica, a questão tem se mostrado interminável. São dezenas de instrumentos, como foto-montagens, citações de autores famosos (outro detalhe: em boa parte das vezes, tanto a autoria está erroneamente creditada, quanto a frase em si sequer existiu e, muito menos, foi proferida pelo referido autor), ou o bom e velho desabafo. Por quê? Porque o “Como você está se sentindo?” lido na caixa de texto é uma extensão do excesso de informação que se tem no feed em si. É um misto de autoafirmação com lamento com descrição de intempéries e convulsões cotidano-sociais com resultado de jogos de futebol com “modelices” com divulgação de empreendimentos e trabalhos com piadas e troças com propaganda e revolta política com manifestações religiosas com... CHEGA! Pare, respire. Todos esses itens e assuntos que citei são integrantes da vida de todos nós, sem dúvida, e devem ser divididos. Pode até ser por meios eletrônicos, hoje em dia a vida é corrida e é só o que nos resta para comunicarmo-nos com nossos entes queridos. Agora, valer-se sempre do arremessar de conteúdo num feed de notícias vira um vício, o que obviamente gera crise de abstinência. Como citei acima, a coisa é retroalimentada e, uma hora invariavelmente, pode vir a transbordar. Transborda porque perfeição não existe, porque felicidade ocupa menos espaço e pesa menos que a tristeza. Mas como, e reafirmo, felicidade é feita de pequenos momentos que preenchem os rejuntes das lajotas gélidas e cotidianas de nossa existência, o resto é o que pesa mais. E vai pesar sempre, não se iluda do contrário. Mas faz parte da existência aguentar os pequenos problemas no osso. São as adversidades que nos fazem evoluir. As vitórias, conquistas e felicidades apenas confeitam a vida; a massa do bolo é feita das lutas, e o fermento nada mais é o quão bem reagimos aos insucessos.

Redes sociais são interessantes, nos fazem retomar ou manter contato com pessoas queridas que já passaram, às vezes há muito tempo, por nossa vida. Já se versou que estamos esquecendo de olhar para o lado e para o entorno, apenas para falar com as centenas de “amigos” (reveja mentalmente este conceito, também, para o seu bem) do Facebook, e devemos nos policiar nesse sentido. A vida real é que nos faz... reais. “Como você está se sentindo?” Acho uma pergunta gostosa, um abraço feito de letras, quando feito por alguém querido e num momento de intimidade. Feliz, maravilhado, chocado, supreso, angustiado... Estados de espírito inerentes à condição humana, que dividimos para nos aliviar. Mas não existe vulcão na face terrestre que fique em erupção eternamente, uma hora a coisa ventila, areja. Sem exageros, menos é mais. Menos virtualidade é mais realidade. Foi o (ovo de Colombo) que realizei num churrasco com dois amigos que não via há tempos. Momento real, tangível, que nenhuma virtualidade consegue substituir. Se volto ao Facebook? Deixo a resposta a cargo do futuro, até porque, para mim, transbordou.

(Diego Vargas)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Poemas em Tortas Linhas


Humildade não absolve
A alma ferida com palavras cruas
Rudeza essa que nos sedimenta
Impede o sentimento de se externar

Maldade quase nunca faz sentido
Até mesmo a maldade necessária
Se puritano fosse o pensar calado
Não seriam tantas frases, tantas bocas aventuradas
Externando lampejos poéticos

Se o interno é tão sujo a ponto de petrificar
O saber silencia e liberta
Não repreende, não analisa
Porque ter o limpo como feio
Se o que nos torna potáveis
São os momentos libertos do coração?

Vergonhosos sonhos que florescem
Quanto mais rasos, menos mornos
A agonia do calor picante
Que não pode tomar forma
Trancafiado em um quartel, um quarto
Prisioneiro de si mesmo
Quase invisível à luz do Sol

O que se mostra, mesmo, sempre
É aquilo que os outros
Os outros em seus tantos quilos
Desejam, sabe-se lá por que, notar.

(Vinni Biazzuz)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CACOS

Você ganha um belo vaso, exemplar raro da dinastia Aquela-Mesma. Você o quis, talvez; ou ainda pode tê-lo ganho por acaso. Mas desenvolve um apreço gigante por aquela linda peça decorativa. E você ganha elogios por tão belo item que adorna tua morada. E você desenvolve ainda mais apreço, pois as palavras inflam o teu ego, fazem com que você se sinta sempre bem em função daquele item que embeleza tua existência.

Mas aí as coisas começam a ficar engessadas. A casa prestes a ruir, nada mais no entorno importa, somente o belíssimo vaso. Parado, cada vez mais gelado (e congelante), mas belo. Porque te dizem que é belo. Porque você um dia achou belo (ainda que, entre quatro paredes, com a cabeça deitada no travesseiro, você já não veja mais tanta beleza). Mas a beleza da reputação dele é a sua beleza, ao menos é o que dizem.

E a casa caindo... E o mundo acinzentando... Mas o vaso está lá. Até que sobra você e o vaso. Belo vaso. Lindíssimo vaso, não é o que sempre te disseram? Beleza ofuscante. Ofuscou tua vista. Te botou uma tapa de cavalo, não mais olhou para os lados, porque é um belo vaso. Um Sol no teu céu. Mas o Sol cega se muito o mirares.

Antes da cegueira, as lágrimas, abundantes. A dor, lancinante. E você, num átimo, num acesso de Rainha de Copas louca por decapitações, decide: é hora de quebrar a porra do vaso! Foda-se sua beleza! Foda-se a beleza que todos dizem que ele tem! Agora ele te é horroroso! E você quer apreciar belezas de novo... Que venham novas belezas.

Cacos de um vaso... Restos de uma beleza... Morta beleza, feita em pedaços. Mas uma percepção segue íntegra: a de que beleza não tem um só conceito. Version:1.0 StartHTML:0000000167 EndHTML:0000003773 StartFragment:0000000452 EndFragment:0000003757
CACOS

Você ganha um belo vaso, exemplar raro da dinastia Aquela-Mesma. Você o quis, talvez; ou ainda pode tê-lo ganho por acaso. Mas desenvolve um apreço gigante por aquela linda peça decorativa. E você ganha elogios por tão belo item que adorna tua morada. E você desenvolve ainda mais apreço, pois as palavras inflam o teu ego, fazem com que você se sinta sempre bem em função daquele item que embeleza tua existência.

Mas aí as coisas começam a ficar engessadas. A casa prestes a ruir, nada mais no entorno importa, somente o belíssimo vaso. Parado, cada vez mais gelado (e congelante), mas belo. Porque te dizem que é belo. Porque você um dia achou belo (ainda que, entre quatro paredes, com a cabeça deitada no travesseiro, você já não veja mais tanta beleza). Mas a beleza da reputação dele é a sua beleza, ao menos é o que dizem.

E a casa caindo... E o mundo acinzentando... Mas o vaso está lá. Até que sobra você e o vaso. Belo vaso. Lindíssimo vaso, não é o que sempre te disseram? Beleza ofuscante. Ofuscou tua vista. Te botou uma tapa de cavalo, não mais olhou para os lados, porque é um belo vaso. Um Sol no teu céu. Mas o Sol cega se muito o mirares.

Antes da cegueira, as lágrimas, abundantes. A dor, lancinante. E você, num átimo, num acesso de Rainha de Copas louca por decapitações, decide: é hora de quebrar a porra do vaso! Foda-se sua beleza! Foda-se a beleza que todos dizem que ele tem! Agora ele te é horroroso! E você quer apreciar belezas de novo... Que venham novas belezas.

Cacos de um vaso... Restos de uma beleza... Morta beleza, feita em pedaços. Mas uma percepção segue íntegra: a de que beleza não tem um só conceito. Não tem só um jeito. Beleza é o imperfeito. O estranho, torto, esquisito cotidiano. Beleza é você, é eu, é tudo. É tanta coisa. Tantos vasos. Talvez um vaso de barro, simples. Mas se ele te é belo, isso que importa.

(Diego Vargas)

Beleza é você, é eu, é tudo. É tanta coisa. Tantos vasos. Talvez um vaso de barro, simples. Mas se ele te é belo, isso que importa.

(Diego Vargas)