É
sempre assim: me rendo à carência, entre uma sitcom
água-com-açúcar e um balde de pipoca, e disparo o telefonema. A
primeira chicotada, o açoite inicial dos quatro dias de luxúria e
sofreguidão. O primeiro de luxúria, e o resto de sofreguidão. É
sempre um “Oi!” que me cumprimenta, é sempre um “Quanto
tempo!” que me violenta. Violenta mesmo, eu sou masoquista.
Segue-se um bom banho, uma escolha esmerada de looks
e cheiros, e a certeza, que depois prova-se infundada, de que estou a
caminho da diversão.
Amor
de pica, quando bate fica. Verdade universal. Certeza inconteste.
Como o sol surgindo no leste. São sempre drinks em algum boteco,
alheios ao entorno. Duas pessoas, quatro, por vezes seis, chopes, e
uma vontade: siri na toca. Frenético, suado, desesperado. Mas antes
tem que conversar, para dar um pouco de civilidade aquele chamado da
natureza. Não, é chamado da virilha, mesmo. Estou pouco me fodendo
se teu chefe é um merda, se teu time ganhou “daqueles prega-frôxa”
(o português paupérrimo povoa minha ressaca pós-foda, não devo
jamais esquecer isso). Estou pouco me fodendo o que te fode. Quero
que me fodas, só.
“Vamos
pedir a conta?” é a deixa. Para a cena final do primeiro ato dessa
minha ópera, que cismo em encenar. Já sei que o scotch
vai ficar pela metade, que o DVD só será assistido até não mais
que o oitavo minuto e que aquele sofá vai ser bastante amaciado. A
fodelança começa no sofá, com ângulos que fariam uma estrela
pornô enrubescer. E é bom, ai, como é bom. A grande derrocada da
saúde afetivo-emocional reside na total impotência deste perante
uma boa trepada. Entre cálidos gemidos não se enxerga vindouros
perigos. Não se enxerga nada, e se sente tudo. Se absorve, da pele
para a alma. Alma que sempre lavo naquele chuveiro delicioso, para
depois sujar novamente ali mesmo no chuveiro, e depois lavar
novamente para sujar de novo naquela cama. Cama? Altar de sacrifício,
meu sacrifício aos deuses da carne fraca.
Carne
fraca e consumida pela culpa. Consumida e torrada pelos raios que me
despertam, cutucando-me a nuca. Raios que só afagam o filha-da-puta,
que dorme placidamente depois de me abater. Me devorar, me aniquilar.
Bandido dissimulado, galinha, e que tão bem me come. Que jamais
atenderá um telefonema meu nos próximos 30 dias, porque “o banana
do meu chefe está me matando de tanto serviço”. Mas que me cutuca
no Face, para depois me cutucar com o pinto. Pinto esse que aponta
para mim, feito um perdigueiro diante da ave abatida, assim que passa
o período de afastamento compulsório. Porque furar pode, baixar a
guarda jamais.
Oito
e meia? Caralho! Meu chefe vai foder comigo. Não tão bem quanto
este merda aqui. Por isso, apesar de saber que isso nunca vai dar em
nada, deixo o bilhete: “Adorei a noite, vamos nos falando”,
sabendo que aquelas letras são pás de terra que sepultam meu amor
próprio; são o epitáfio da minha dignidade. Que meu anjo da guarda
me proteja, para que num próximo acesso de carência, vendo casais
felizes de sitcoms
açucaradas,
eu resolva tudo no banho mesmo e me poupe desta palhaçada. Molhada,
apimentada, deliciosa e orgástica palhaçada.
Diego Vargas
Diego Vargas
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